Provérbio: “Quem não sabe dançar, diz que o tambor é que toca mal.”
A savana se estendia até onde os olhos podiam alcançar, um mar dourado de ervas altas que balançavam com o vento quente da tarde. No centro da aldeia, os tambores descansavam sobre a terra vermelha, ecoando ainda os sons da festa da noite anterior. A lua começava a surgir tímida no céu, e o cheiro de fumaça das fogueiras ainda pairava no ar. Entre sombras e feixes de luz do crepúsculo, surgiu Kibwe, o macaco travesso e curioso, conhecido entre os outros animais por sua ousadia e espírito inquieto.
Kibwe olhou o tambor com olhos arregalados. A madeira polida brilhava com o reflexo dos últimos raios de sol, e a pele esticada parecia pulsar, quase convidando para ser tocada. Seus dedos tocaram levemente a superfície e um som abafado ecoou. Os ouvidos aguçados das cabras que pastavam mais adiante se voltaram para o barulho, e algumas baliram surpresas.
— Hoje serei o mestre do batuque! — murmurou Kibwe, subindo sobre o tambor com cuidado, equilibrando-se sobre suas pequenas mãos.
O macaco olhou curioso, mas desconfiado. A criança pegou no tambor, posicionou-se à frente e começou a tocar com delicadeza, sentindo cada vibração, cada batida ecoando na terra. O som se espalhou como se a própria savana dançasse junto. Kibwe, maravilhado, percebeu que não era o tambor que precisava ser mudado, mas ele mesmo que precisava aprender a arte de tocar.
Nas semanas seguintes, Kibwe passou a sentar-se junto aos tambores da aldeia todas as tardes. Observava cada movimento da criança, aprendia os ritmos, tentava e errava, errava e tentava novamente. Os outros animais começaram a se reunir à volta, curiosos com a dedicação do pequeno macaco. Ele aprendeu que a paciência e a prática eram mais importantes do que a pressa e a impaciência.
Uma tarde, o tambor que antes parecia estranho e sem vida começou a emitir sons harmoniosos sob as mãos de Kibwe. A savana inteira parecia responder àquele ritmo, o vento dançava entre as árvores, os pássaros batiam asas em compasso, e até os coelhos se aproximavam para ouvir. Kibwe sentiu uma alegria que jamais havia sentido antes — não apenas por ter dominado o instrumento, mas por ter aprendido que a culpa nem sempre está nos objetos, mas sim na habilidade e no esforço de quem os manuseia.
O macaco começou a tocar todos os dias, e sua reputação cresceu entre os animais e crianças da aldeia. Ele não se gabava; aprendia que cada batida tinha seu tempo e cada ritmo sua história. Aprendeu que errar não era vergonha, mas recusar aprender sim. E assim, o tambor, que antes parecia velho e desafinado, tornou-se uma ponte entre ele e toda a comunidade da savana, ensinando paciência, humildade e perseverança.
E naquela clareira, sob o pôr-do-sol dourado, Kibwe sentiu algo maior do que alegria: sentiu a sabedoria de que a verdadeira música nasce da prática, da dedicação e da capacidade de aprender. Ele entendia finalmente o provérbio antigo, repetido pelos mais velhos da aldeia: “Quem não sabe dançar, diz que o tambor é que toca mal.”
Moral: Não culpes os instrumentos quando a falta é tua; aprende a melhorar o teu toque.
A moralensina que, muitas vezes, quando algo corre mal, a tendência natural é procurar desculpas externas — culpar os outros ou as circunstâncias — em vez de assumir a própria responsabilidade. Quando as coisas não dão certo, é mais produtivo reconhecer a própria responsabilidade, aprender, treinar e melhorar. Esse ensinamento incentiva autocrítica, humildade e esforço pessoal, lembrando que o crescimento vem do aperfeiçoamento de si mesmo, e não da transferência de culpas.